Vinha Homem e Vinho

Por Irineo Dall’Agnol – Enólogo e Vitivinicultor

Na evolução da vida quem surgiu antes! O homem ou a videira?…Segundo (Santos 1983) a videira é anterior a espécie humana!!! Deus deve ter criado a vinha e após o homem para cuidá-la… Sabe-se, que a videira esteve sempre presente em todas as fases da evolução da humanidade. Esta simbiose estabelecida entre os dois reinos, proporcionou a domesticação da vinha pelo homem, tornando-se a cultura mais estudada até hoje, depois do trigo. 


Filósofos, pensadores, pintores, escritores, poetas… tinham sempre presente o vinho, como uma das fontes de inspiração para suas obras. O homem sábio jamais odiou a vinha e o vinho. O mais famoso deles Jesus Cristo, utilizou-se deles como instrumento para passar os seus ensinamentos. Provavelmente, por ser um elemento muito presente no dia-a-dia das pessoas daquela época. Na Bíblia existem mais de 120 passagens que relatam o vinho e a videira. Cristo no seu primeiro milagre transformou a água em vinho e na última reunião com seus discípulos na Santa Ceia elevou para o alto um cálice com vinho, imortalizando o gesto repetido até hoje pelos vencedores,  exclamando: “Este é o meu sangue da nova eterna aliança que será derramado por muitos para remissão dos pecados”, (Mt. 26, 28; Mc. 14, 23; Lc. 22, 20).


A vinha fixa o homem à terra. Todas as Regiões do mundo onde a videira é cultivada com expressão agregaram maior desenvolvimento social, econômico e cultural do seu povo. O ato de plantar, manejar, processar exige muita dedicação, parcimônia e esmero do homem, que acaba adquirindo conceitos de planejamento, persistência, competência tornando-o altamente competitivo e eficiente em outras áreas da sociedade.


A videira é uma das plantas mais alegres da natureza. Diferentemente do homem que pode se locomover para procurar alimentos e a melhor condição para sobreviver, ela imóvel, estende suas folhas como se fossem mãos abanando para ao alto, a fim de captar a radiação solar e, concomitantemente sequestrar da atmosfera o gás dióxido de carbono (CO2). Também, como em um passe de mágica mescla sua seiva bruta, rica em água e sais minerais absorvidos do solo, provocando um dos fenômenos mais importantes para a manutenção da vida, a “fotossíntese” (transformação da energia fotoquímica  em energia orgânica). A vinha, ainda, caprichosamente antes de oferecer o seu trabalho ao homem em frutos delicados, os enfeita mostrando toda sua feminilidade com pigmentos atrativos, polifenóis protetores, aromas encantadores e um delicado sabor que atrai e agrada a todo o reino animal, indistintamente. Eufórico, ainda não satisfeito, o homem elabora o vinho para concentrar e armazenar um dos alimentos mais alegres e completos para o corpo, a alma e o espírito.


Noé, após sobreviver ao dilúvio, ancorou sua arca em terra firme e, imediatamente ordenou que se plantasse os bacelos de videiras que trouxera consigo. Para ele era prioritário que, após elaborar o vinho o bebeu com tanto fervor saindo nú pela aldeia, gritando e exaltando os Deuses do vinho. O homem por ser o único animal que bebe sem sentir sede, deve fazê-lo sempre de forma prazerosa e, preferencialmente em companhia. O prazer e a euforia que o vinho provoca só se compara com a dos eleitos.


A vinha, o homem e o vinho se complementam, são altamente dependentes, necessitam estar sempre próximos para expressarem ao máximo suas qualidades. Esta planta de tronco sinuoso e de frutos suculentos, contribuiu muito para o desenvolvimento atual da humanidade, sem ela o mundo seria outro… Provavelmente mais triste.